Não existem margens para dúvida de que estamos a falhar na luta contra as alterações climáticas. Cerca de 75% dos deslocamentos internos ocorridos em 2020 foram resultado de fenómenos climatéricos extremos, de acordo com o estudo do IDMC (Centro de Monitorização de Deslocamento Interno).
O total de pessoas que vivem como refugiadas no seu próprio país chega a recorde de 55 milhões.
As tempestades, inundações, incêndios florestais e secas, a guerras e a violência resultaram em 40,5 milhões de novos deslocamentos internos em 2020, de acordo com o IDMC. É o maior número de novos deslocamentos registados em dez anos.
De acordo com os investigadores o clima extremo irá provocar o deslocamento de cada vez mais pessoas, não só pela violência dos fenómenos climatéricos, mas também pelo seu impacto direto na agricultura, a título de exemplo. Os investigadores chamam também a atenção para as falsas narrativas:
O relatório anual revela que mais de 80% das pessoas forçadas a deixar suas casas em 2020 estavam na Ásia e em África.
Na Ásia em países como China, Índia, Bangladesh, Vietnam, Filipinas e Indonésia – onde centenas de milhões de pessoas vivem em litorais e deltas – uma combinação de crescimento populacional e urbanização deixou mais pessoas expostas a inundações que se tornaram mais fortes à medida que o nível do mar vem subindo.
Em África, a maior parte dos deslocamentos em 2020 devem-se a conflitos. A violência persistente expulsou as pessoas de suas casas em países como Burkina Faso e Moçambique, enquanto novas guerras surgiram em outros países, como a Etiópia.
Sobre as interligações entre clima e migrações, os autores do relatório são claros ao afirmar de que existe uma falta de compreensão sobre esta interdependência, sublinhando a falta de dados sobre quantas pessoas deixam suas casas por causa de crises ambientais de desenvolvimento mais lento, como o aumento da temperatura e do nível do mar.
Neste contexto, a análise do Centro de Análise de Política Económica da Universidade de Potsdam revelou que os desastres que perduram, como ondas de calor e secas, têm mais probabilidade de aumentar a migração do que desastres repentinos, como cheias e furacões. Os investigadores sugerem que isso ocorre porque as pessoas precisam de dinheiro para migrar, o que geralmente falta após choques climáticos repentinos, embora eles causem deslocamento imediato em distâncias mais curtas.
Aqueles que ficam onde estão – geralmente sem dinheiro para reconstruir suas casas ou seus meios de subsistência – podem ficar presos em um ciclo de clima extremo que os impede de partir, embora outros possam escolher ficar por outros motivos.
O inquérito pan-europeu promovido no âmbito da campanha #ClimateofChange identifica que muitos dos jovens portugueses não conhecem o conceito de migração climática, tal como o resto dos jovens europeus – 71% ouviram falar pouco ou nunca ouviram o termo “migrantes climáticos” em comparação com 68% dos seus pares em toda a Europa. O mesmo inquérito também revela que a preocupação com as alterações climáticas é elevada em Portugal. Em cada dez jovens portugueses mais de seis (63%) estão muito ou extremamente preocupados com as alterações climáticas, em comparação com a média dos jovens europeus que é inferior a 50% (46%). E é por isso que é necessário reforçar o conhecimento e a ação em torno dos migrantes climáticos. Uma realidade conhecida por todos, mas um conceito que não é ainda validado a nível internacional.
Na sua configuração atual, o Direito Internacional não contempla o enquadramento legal dos migrantes climáticos. Conceitos como “refugiados climáticos” ou “refugiados ambientais” também não são válidos no âmbito do Direito Internacional, visto que o regime legal estabelecido pela Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951 não pressupõe a atribuição de um mandato específico que confira proteção e assistência a estas populações.
A mobilidade humana não pode ser considerada em categorias distintas, mas decorre num espectro entre voluntário & forçado, temporário & permanente. É tempo de começar a pensar nas pessoas e não na razão com números & categorias, é tempo de #ClimateOfChange! https://t.co/I4NfY8Wo1T
— IMVF (@imvf) June 22, 2021
Esta falta de atuação dos legisladores é um sinal claro que como cidadãos temos de advogar e reforçar a nosso conhecimento e ação em torno da humanização da questão das migrações, e da necessidade de envolver os cidadãos na promoção de padrões de estilo de vida sustentáveis e na mudança para um modelo de economia humana sustentável dentro das nossas fronteiras planetárias. A campanha #ClimateofChange faz parte desta mudança.
E porque todxs temos um potencial transformador que será o garante de um mundo mais justo, mais digno e mais sustentável, contamos ainda com o teu apoio para assinar a petição Stop climate change, start a climate of change!
Junta-te ao movimento! Juntos podemos iniciar um “clima de mudança” e exigir justiça climática para todos.
Sabe mais em climateofchange.info/portugal
Notícia adaptada. Fonte: Clima extremo contribui para recorde de desabrigados no mundo, 20.05.2021, DW Made for Minds.
Fotos: Alfredo Zuniga/AFP | DW. Bandopadhyay | Alexis Huguet/AFP/Getty Images