No 8.º episódio do podcast InquietAÇÕES, da associação ANIMAR, falou-se de uma das inquietações mais urgentes: a migração induzida pelo clima – o tema da campanha #ClimateOfChange.
Com mais de 20 anos de experiência na promoção dos temas da Cidadania Global e na gestão de projetos, uma das gestoras da campanha #ClimateOfChange (#CoC), Mónica Santos Silva, dá-nos a conhecer um pouco mais os princípios e objetivos desta campanha.
A Campanha #ClimateOfChange, é um projeto de Educação para o Desenvolvimento e Cidadania Global, financiada pela UE e apoiada pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, que através de um conjunto de atividades inovadoras para o conhecimento, informação, e mobilização sensibilizam os jovens para o impacto das alterações climáticas. Todos os dias assistimos ao impacto devastador que os desastres climáticos provocam nas sociedades, nas mais diferentes geografias, e reconhecemos as interligações entre clima, pobreza, educação, migrações, (de)igualdade de género…
São estas interligações temáticas, muito próprias da Cidadania Global que trabalhamos ao longo do projeto.
A campanha #CoC foi desenhada por 26 Organizações da Sociedade Civil, como ONGD, Universidades… que reconheceram o incrível papel mobilizador dos jovens no tema das alterações climáticas, e que pensaram que seria possível aprofundar esse papel na promoção da justiça social, com foco nas migrações induzidas pelo clima. A campanha é desenhada em plena crise migratória, em que as narrativas assentavam muito na vinda de milhares de migrantes para a Europa. Não se percebiam os contextos, alimentavam-se os discursos de xenofobia, e não se falava de todo nas migrações induzidas pelo clima. Aliás de acordo com um inquérito pan-europeu que realizámos no âmbito desta campanha , cerca de 71% dos jovens europeus não conhecem este conceito de migração climática
As alterações climáticas são uma causa significativa de migração. Aliás, os desastres naturais provocam quase 14 milhões de deslocados por ano e estudos recentes estimam que até 2050 poderá forçar 216 milhões de pessoas a abandonar as suas casas. É importante notar que este número está relacionado com a migração interna, e não transfronteiriça…
Esta invisibilidade também se deve ao fato de não existir um estatuto legal de refugiado climático. Apesar da decisão histórica do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas em 2020, em que se afirma:
“Um Estado violará as suas obrigações em matéria de direitos humanos se deportar alguém para um país onde, devido à crise climática, existem riscos para a sua vida ou o perigo de ser alvo de tratamento cruel, desumano ou degradante.”
Atualmente, as pessoas encontram-se expostas aos graves impactos climáticos, incluindo o acesso limitado a terras habitáveis, água potável e meios de subsistência…
Não existe justiça climática sem justiça social e vice-versa. E se estamos comprometidos com um mundo mais justo, mais digno, e mais sustentável em que ninguém fica para trás, então como sociedade civil temos esta obrigação de promover atividades que permitam uma sensibilização e mobilização coletiva.
Diria que o eixo de intervenção Conhecimento – Consciencialização – Campanha – Advocacia – Mobilização definido. Este eixo de intervenção assente num trabalho em sinergia e em rede permite-nos trabalhar em comunidade num território alargado.
Trabalhamos com os demais atores do desenvolvimento nas mais diferentes atividades para as quais adequamos as nossas atividades, práticas e metodologias. Trabalhamos com Universidades, centros de investigação, Municípios, Associações de âmbito nacional e local, com ativistas, com outras ONGD, e com cada uma destas entidades, coletivos e pessoas desenvolvemos uma dinâmica de conhecimento e de trabalho cujos resultados tem impacto nos objetivos que prosseguimos.
Sempre em rede e em parcerias tem sido a lógica de implementação de projetos seguida pela Unidade de Cidadania Global, aliás pelo IMVF. Acreditamos que estamos de facto a estabelecer pontes de diálogo, conhecimento e práticas com os demais atores do desenvolvimento. Só assim é possível trabalhar os valores e princípios da justiça social e da justiça climática.
Quando promovemos um espetáculo de circo contemporâneo sobre alterações climáticas e migrantes climáticos, com o apoio da CM Oeiras, a recetividade com que fomos recebidos e os aplausos do público mostraram que é possível desenvolver uma tipologia de atividades de educação não formal que nos mobilizam para a ação;
Quando promovemos um estudo sobre a interligação entre clima e migrações, um estudo sobre novos modelos económicos, com universidades e inquéritos sabemos que consolidamos o impacto científico do tema das alterações climáticas e das migrações induzidas pelo clima;
Quando promovemos atividades nas escolas e universidades, como debates, exposições, palestras, até as nossas famosas oficinas de bombas de sementes sabemos que estamos a ter impacto junto dos jovens e a reforçar o seu pensamento critico e interesse pelos temas da cidadania global;
Com a carta aberta que promovemos conjuntamente com 32 OSC, no decorrer da Presidência portuguesa da UE, contribuímos para o debate político e para a proposta de soluções e políticas públicas sustentáveis e justas;
Com a nossa petição, que decorre até dia 30 de outubro, e que será apresentada na próxima COP27, sabemos que teremos a capacidade de influenciar os decisores políticos;
Quando promovemos podcast com ativistas nacionais com uma público juvenil muito abrangente e com temas que de facto os jovens estão interessados, consumo responsável, migrações , veganismos, negócios sustentáveis, zero desperdício… sabemos que estamos a sensibilizar e a mobilizar estes públicos.
Quando promovemos guias de ativismo e outras metodologias que podem ser seguidas pelos demais atores do desenvolvimento, estamos a consolidar o trabalho da sociedade civil;
E quando inspiramos um grupo de jovens a criar um manifesto sobre refugiados climáticos, então sabemos que estamos a gerar impacto.
Mas o mais importante, é que reconhecemos que necessitamos do apoio de todos e todas para garantir um mundo mais justo, mais digno e mais sustentável. E isso só é possível quando garantimos a participação ativa das pessoas nas nossas atividades e iniciativas. E as redes e o trabalho em sinergia são concretizarmos este objetivo.
Ouve o podcast InquietAÇÕES dinamizado pela Associação ANIMAR: