Qual o futuro da crise climática?

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Qual o futuro da crise climática?

Pensando no que será o futuro e como serão aqueles que irão ocupar os futuros lugares de decisão, o foco deve incidir nas camadas mais jovens da sociedade e na forma como elas se posicionam face a esta crise.

A 12 de dezembro de 2015 decorreu na capital francesa a COP 21[i] onde foi assinado o Acordo de Paris, um novo tratado internacional com o objetivo de impedir que o aquecimento global chegue aos 2ºC tentando, simultaneamente, que ele não ultrapasse os 1,5ºC, em comparação com os valores pré-industriais[1].  Passado 5 anos e 4 meses da assinatura deste acordo foi lançado, no dia 20 de abril de 2021, pela Organização Mundial de Meteorologia das Nações Unidas o relatório sobre o Estado do Clima Global em 2020[2]. Os resultados são alarmantes e demonstrativos de que os esforços até agora desenvolvidos para travar o aquecimento global não estão a ser suficientes.

O discurso de apresentação do relatório por António Guterres, Secretário-Geral das Nações Unidas, ficou marcado pelo seu tom de alarme e preocupação ao frisar os principais dados e acontecimentos que marcaram o ano de 2020 e que revelam um claro distanciamento face às metas impostas pelos Estados no Acordo de Paris. Segundo a informação apresentada no relatório, 2020 foi o terceiro ano mais quente de que há registo, com 1,2ºC acima dos valores pré-industriais. Este valor, alerta o Secretário-Geral, coloca-nos «muito perto do limite dos 1,5ºC estabelecido pela comunidade científica»[3]. Mas este relatório vai muito além dos valores sobre o aquecimento global.

Durante o ano de 2020, a concentração de gases com efeito de estufa continuou a aumentar e o nível das águas do mar, assim como a acidificação dos oceanos continuou a subir. Este cenário provoca ainda maior preocupação quando enquadrado num ano particularmente assolado pela situação pandémica da COVID-19 que fez parar praticamente toda a produção e atividade humanas, mas que, mesmo assim, se revelou insuficiente para inverter a crescente crise climática. Igualmente inquietante foi a intensificação e ampliação dos fenómenos climáticos algures por todo o mundo. Os Estados Unidos experienciaram uma frente de trovoadas severas deixando um rasto imensurável de estragos e destroços; a costa ocidental do Brasil vivenciou grandes períodos de seca que conduziram à multiplicação de fogos selvagens; e a região do Corno de África debateu-se com largos períodos de chuvas fortes que motivaram a ocorrência de cheias nos vários países desta região. Estes três exemplos são apenas uma pequena amostra do elevado número de fenómenos climáticos severos que se registaram em todo o mundo no ano de 2020. Perante este cenário de urgência climática, António Guterres terminou o seu discurso incitando a que «todos levassem a mensagem deste relatório em grande consideração»[4] e apelou a uma ação de resposta imediata.

Pensando no que será o futuro e como serão aqueles que irão ocupar os futuros lugares de decisão, o foco deve incidir nas camadas mais jovens da sociedade e na forma como elas se posicionam face a esta crise. Um bom ponto de partida serão os resultados de um questionário pan-europeu[5] de aferição de perceções e atitudes em relação às alterações climáticas, realizado no âmbito do projeto #ClimateOfChange[6], que foram apresentados em fevereiro de 2021. Com uma amostra de 22 377 inquiridos entre os 15 e os 35 anos de 22 países europeus[ii], concluiu-se que 46% dos jovens europeus consideram as alterações climáticas o problema mais sério atualmente no mundo, seguidos de 44% que priorizaram a degradação ambiental. No mesmo seguimento, 39% dos jovens está ‘consideravelmente preocupado’ com as alterações climáticas e 31% está ‘muito preocupado’. Ainda no âmbito do projeto #ClimateOfChange, está atualmente aberta uma petição pública europeia[7] com o objetivo de sensibilizar os decisores políticos europeus para a necessidade de tomarem decisões urgentes de combate às alterações climáticas. Este é um apelo que se tem vindo a repetir por cada vez mais jovens, o que explica, em parte, as já 737 assinaturas. Estes dados devem animar-nos e dar-nos confiança para o futuro.

Artigo escrito por Mariana Álvares para o Megafone a Junho de 2021.

[1] https://www.nrdc.org/stories/paris-climate-agreement-everything-you-need-know

[2] https://public.wmo.int/en/our-mandate/climate/wmo-statement-state-of-global-climate

[3] https://www.un.org/sg/en/content/sg/speeches/2021-04-19/remarks-press-conference-launch-state-of-global-climate-2020-report

[4] https://www.un.org/sg/en/content/sg/speeches/2021-04-19/remarks-press-conference-launch-state-of-global-climate-2020-report

[5] https://mk0eeborgicuypctuf7e.kinstacdn.com/wp-content/uploads/2021/04/IPSOS-Multi-Country-Report-complete.FINAL_.pdf

[6] https://climateofchange.info/

[7] https://climateofchange.info/participate/petition/

[i] Conference of the Parties da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre as Alterações Climáticas realizada anualmente

[ii] Austria, Belgium, Bulgaria, Cyprus, Czechia, Germany, Estonia, Greece, Spain, France, Croatia, Hungary, Ireland, Italy, Lithuania, Latvia, Malta, Netherlands, Poland, Portugal, Romania, Slovenia, Slovakia

 

 

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